Por Assessoria
Cerca de 1/3 das startups do ecossistema tem liderança feminina
As mulheres parecem ter conseguido seu espaço no ecossistema de inovação do agronegócio brasileiro. Somente no Cocriago, o primeiro hub da Agro Valley, em Londrina (PR), nove agtechs são fundadas e geridas por mulheres, de um total de 30 empresas ligadas ao hub. Além disso, o próprio hub tem uma mulher como sócia e gestora.
Os números são otimistas se comparados à média nacional. Segundo dados da Female Founders Report, atualmente apenas 4,7% das startups brasileiras são fundadas exclusivamente por mulheres e 9,8% delas têm alguma mulher entre os fundadores.
Entre os negócios fruto do empreendedorismo feminino no Cocriagro estão startups de bem-estar animal, gerenciamento de experimentos agrícolas, financiamento agropecuário, adequação ambiental, gestão de equipamentos de proteção individuais, análises químicas, gestão de fornecedores, cultivares de soja e software de monitoramento ambiental.
Os perfis das empreendedoras são diversos, há pesquisadoras que estão trazendo os resultados da academia para o mercado, profissionais experientes em busca de novos desafios e jovens recém-formadas.
Maria Thereza Vieira Vinhal Casali é CEO da Unapel, plataforma de acesso a informações de compras de clientes de concessionárias, cooperativas e demais varejos relacionados ao mercado agro. Atualmente ela é diretora de um grupo de concessionárias de máquinas agrícolas e está investindo em um novo negócio.
“No segundo semestre de 2020 percebemos que uma dor dos nossos clientes era latente, construímos uma plataforma para solucionar esse problema que foi evoluindo e, atualmente, estamos lançando essa ferramenta para o mercado como um produto digital.”
Ela esclarece que o agro tem sede por tecnologia. “É um segmento que merece a atenção dos empreendedores porque existem muitas oportunidades, uma vez que ainda está no início da absorção tecnológica além de ter muitos recursos financeiros. Em contrapartida, existem barreiras culturais a serem superadas.”
A farmacêutica e bioquímica Simone Alves Sellmann é diretora da EPICont, que faz a gestão do uso e treinamento de equipamentos de proteção individual a colaboradores de campo. “Há 18 anos estou à frente de uma empresa que fabrica EPIs agrícolas e percebi a dificuldade dos empresários em manter os documentos legais de gestão dos EPIs. Assim, nasceu a startup que vem para facilitar e digitalizar os controles de equipamentos exigidos por lei, diminuindo riscos trabalhistas e multas administrativas”, explica.
A diretora comercial da Fitovision, Sheila Ariana Xavier Valencio, é doutora em agronomia e iniciou sua carreira como jovem aprendiz no curso de agronomia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), trabalhando com iniciação científica na área de melhoramento e fitopatologia. Sua trajetória teve continuidade com o mestrado e o doutorado em fitopatologia e como responsável técnica por ensaios de eficácia de produtos fitossanitários em uma empresa, até ser sócia-fundadora da startup, fundada em 2019.
“Com o empreendedorismo tenho a oportunidade de transformar as ideias em soluções práticas. Poder transformar a pesquisa em produtos que são comercializados como soluções para outros setores do agro é o mais gratificante para mim”, explica.
Luiza Reck Munhoz é médica veterinária e diretora da LebenLOG. Ela conta que iniciou seu negócio neste ano. “Junto com mais dois sócios, temos a missão de acelerar, promover e facilitar o bem-estar animal na agroindústria. Após a minha graduação iniciei o mestrado profissional em Gestão e Inovação na Indústria Animal da USP (Universidade de São Paulo), que estou aliando com os resultados da startup.” Ela se diz uma entusiasta da inovação no agronegócio, que é responsável por ganhos de produtividade e eficiência dos processos.
Para a advogada Mariana Silveira Bonora, CEO da Bart Digital e diretora da Associação Brasileira de Fintechs, a startup surgiu de seu trabalho no departamento jurídico em empresas de agroquímicos e da necessidade de novas abordagens por meio da tecnologia. “Assim criamos a Bart, uma agfintech que desenvolve soluções tecnológicas para resolver os desafios do financiamento agrícola.”
Mariana conta que nos primeiros anos da empresa fez questão de atuar em todas as áreas, conhecendo cada detalhe da operação. “Ao mesmo tempo, encontrei, contratei e treinei pessoas que pudessem assumir estas atividades e replicar nossa cultura e padrão de qualidade. Hoje, com a empresa em um momento de escala e um time alinhado, consigo priorizar os desafios e planos de longo prazo, mas ainda faço questão de estar próxima dos clientes, seja participando de reuniões diretas com eles, ou acompanhando os reports dos times.”
Carla Porto da Silva, diretora executiva da MS Bioscience, é química industrial, com mestrado em produtos naturais e doutorado na área de química biológica.
“Atuei por nove anos na área de P&D na indústria cosmética e após um período sabático para realização de um pós-doutoramento fora do Brasil, resolvi me dedicar à docência e pesquisa acadêmica. E em meio a tantas oportunidades de desenvolvimento de projetos de inovação aplicados ao agronegócio, nasceu a ideia de montar a startup em conjunto com outras empreendedoras, que oferece soluções personalizadas e inovadoras em análises químicas para as áreas: humana, animal, cosmética, agrícola e alimentícia.”
A doutora em engenharia elétrica Cynthia Cristina Martins Junqueira é diretora de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Espectro, startup de TI que desenvolveu uma plataforma para monitoramento ambiental. Junto ao Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE-DCTA), ela foi pesquisadora na área de micro-ondas e antenas para o setor aeroespacial por mais de 30 anos. “O agronegócio é uma atividade pujante e extremamente importante no cenário mundial. No Brasil oferece inúmeras possibilidades, inclusive com correlações com outras áreas, como telecomunicações, Internet das Coisas (IoT), processamento de sinais e inteligência artificial. A inovação faz parte do dia a dia e atua em conjunto com as atividades de pesquisa e desenvolvimento”, comenta.
Além das startups, o hub Cocriagro também conta com uma sócia. Tatiana Fiuza, head de inovação, é mestre em propriedade intelectual e transferência de tecnologia. “É um trabalho nosso promover a inovação no agronegócio e estimular o empreendedorismo feminino. Temos muito orgulho de ter mulheres liderando startups, mas sabemos que ainda há muito o que fazer”, conta.
