Por Rodrigo Sodré, economista e sócio da BRA, escritório credenciado da XP INVESTIMENTOS
O Brasil aguarda com certa apreensão o resultado do crescimento da economia, a ser divulgado nesta quinta-feira (2). As previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre já oscilaram bastante, influenciadas por diversos fatores e dados que apontam melhorias no cenário, porém não tão otimistas. Enquanto outras nações já engataram um crescimento mais acentuado após a fase drástica da pandemia, a nossa encontra certa dificuldade para avançar.
O desenvolvimento econômico é influenciado pela combinação de diversos fatores, principalmente a inflação e a taxa Selic, cujos movimentos costumam ser determinados pelo comportamento do primeiro indicador. Os itens que compõem o IPCA são muito impactados pelo câmbio, que tem demonstrado certa trégua, com o dólar se mantendo abaixo dos R$ 5 — o que deve contribuir para o alívio de uma das principais forças que vem elevando os preços nos últimos meses. A inflação alta corrói a renda e se torna um obstáculo para o consumo, maior motor da economia brasileira.
Por outro lado, a demanda deve arrefecer justamente pelo amargo remédio contra a subida de preços. A taxa Selic está em 12,75% e deve alcançar mais de 13% este ano. Uma elevação aguda, considerando que os juros chegaram a meros 2% há pouco mais de um ano. Com isso, as empresas tendem a rever investimentos, dado o encarecimento do crédito, o que impacta em outra variável importante para o consumo: o emprego e a renda. O primeiro já dá sinais de leve melhora, enquanto o outro ainda não se recuperou dos efeitos da pandemia.
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O país voltou a criar empregos, a reboque da reabertura de mais setores da economia e do retorno da circulação de pessoas. Assim, a taxa de desemprego recuou para 11,1% no primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, e a população ocupada alcançou um patamar cerca de 1% acima do nível observado antes da crise sanitária, de acordo com análise da XP Investimentos. Por outro lado, tem havido um aumento expressivo do emprego informal. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) Contínua revelou que a taxa de informalidade está em 40,1%.
Esse resultado se relaciona com a renda média do brasileiro, que ficou estagnada em 26 unidades da federação no primeiro trimestre, segundo a pesquisa. A renda per capita está no nível mais baixo desde 2012, e essa estagnação representa, na prática, uma redução, já que há o efeito inflacionário. Além disso, quase um quarto da força de trabalho está desempregada ou em subempregos, o que é um péssimo indicador para a produtividade do país. Enquanto em nações desenvolvidas tem havido escassez de mão de obra e um consequente aumento dos salários, por aqui ocorre o oposto.
Para que o Brasil volte a crescer e de forma consistente, é preciso haver um pensamento de longo prazo, com uma política econômica responsável, que controle a inflação; reformas do Estado, como a tributária, que facilitem investimentos e gerem emprego e renda; e a transmissão de confiança para que os investidores considerem o país um bom negócio. Esses pontos devem estar na pauta da esfera pública ao longo dos próximos meses, principalmente durante a campanha eleitoral. Caso contrário, um cenário não só de recuperação, mas de avanço econômico e social, ficará cada vez mais distante.