Para as próximas décadas, a tendência é que a população mundial continue crescendo junto com a necessidade de rastreabilidade, ainda que em ritmo menor. Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que a população mundial deve chegar a 8,5 bilhões de pessoas em 2030. Com um planeta cada vez mais povoado, é natural que aumente a demanda por uma necessidade trivial: o alimento. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o consumo mundial de carnes de origem animal aumentará cerca de 11% até 2027 – conjuntura promissora e positiva para o Brasil, que é o segundo maior produtor e o maior exportador de carne bovina do mundo, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
E, além do aumento da demanda, cresce também a preocupação da sociedade com o futuro do planeta, sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. O estudo “Visão 2030 – O Futuro da Agricultura Brasileira”, realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), aponta que uma das megatendências da agricultura brasileira nesta década é o protagonismo do consumidor, que passa a ser mais exigente e a buscar produtos com garantia de origem e processos de produção certificados através da rastreabilidade. Atender a essa demanda do mercado e do consumidor significa também estar alinhado aos três pilares da agenda ESG: sustentabilidade, sociedade e governança.
Com esse cenário diante de nós, fica evidente que produtores rurais e toda a cadeia agroindustrial terão que aprimorar cada vez mais suas operações para aumentar sua produtividade e ao mesmo tempo atender a mercados cada vez mais exigentes. No caso da pecuária brasileira, por exemplo, as exportações ganham ainda mais relevância, trazendo junto uma maior preocupação com relação à procedência da proteína animal.
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Desta forma, a rastreabilidade passa a ser um diferencial tanto para atender a legislações e medidas obrigatórias de países que importam do Brasil, como para informar um consumidor final cada vez mais atento. Quem compra o produto – seja o importador, no primeiro momento, ou quem se senta à mesa para comer – quer e precisa saber se aquele alimento veio de um produtor que respeita legislação ambiental e normas fitossanitárias e passou por processos agroindustriais regulamentados. Ter esse controle deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade.
Neste sentido, a tecnologia pode ser a maior aliada para auxiliar esses processos por meio da digitalização, conexão e inteligência de dados, que aumentam a produtividade e a rastreabilidade e tornam a cadeia produtiva mais sustentável e previsível, garantindo a procedência correta de todos os produtos e diminuindo riscos e perdas. Um exemplo de como isso pode ser colocado em prática “da porteira para fora” – ou seja, após a criação do animal, já na agroindústria – é a possibilidade de integração do parque de máquinas ao ERP, avanço trazido pela evolução da Indústria 4.0.
A disseminação da Internet das Coisas (IoT), por sua vez, permite maior automação dos processos produtivos, eliminando trabalhos manuais e mitigando eventuais erros. A tecnologia foi, inclusive, apontada como uma ferramenta com potencial para auxiliar o rastreamento da produção agropecuária no estudo “Potencialidades e Desafios do Agro 4.0”, realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 2021. Isto porque, com toda a integração de dados, é possível ter à mão a origem da matéria-prima e insumos, todas as informações dos processos seguidos, do armazenamento e das embalagens. Tudo isso para que o produto esteja pronto para ser enviado para o consumo seguindo todas as demandas de órgãos brasileiros e internacionais, e do próprio consumidor, completando todo o ciclo produtivo, das fazendas às indústrias, de uma forma muito mais digital e transparente.
Numa sociedade cada vez mais conectada, informada e exigente, é natural que aumente também a preocupação com o que se consome, principalmente quando falamos de alimento. É papel do produtor e da agroindústria, em todas as etapas da cadeia produtiva, assegurar que suas práticas estão adequadas a um mindset sustentável, assim como escolher adequadamente seus fornecedores e exigir que todos sigam as mesmas boas práticas. Esse é um caminho sem volta, e a tecnologia já está à disposição para apoiar a evolução de quem está olhando para o presente e para o futuro do planeta.
*Valdemir Marques, diretor comercial de Large Enterprise da TOTVS*