Por Douglas Bini de Paula
O mercado de commodities agrícolas é um dos mais especulativos e voláteis do mundo, e a guerra entre Rússia e Ucrânia afeta diretamente este segmento, em especial, pela relevância destas duas nações no contexto mundial de commodities. Para se ter uma ideia, a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo e o maior de fertilizantes fosfatados. A Ucrânia, por sua vez, é o maior exportador de óleo de girassol e está entre os cinco maiores de milho, globalmente.
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Além disso, juntos, estes dois países exportam aproximadamente 30% do trigo e 20% do milho consumidos em todo o planeta. Com a possibilidade de precificação dos riscos, os impactos refletem diretamente em uma inflação ainda maior dos custos de produção e dos preços das commodities agrícolas, impactando toda a cadeia.
Para o Brasil, o reflexo deste cenário é imediato e as consequências são diversas. Sob a ótica da exportação da produção agrícola, muitas oportunidades podem surgir, resultando em mercados ainda mais aquecidos e de olho na produção brasileira para suprir a necessidade de alimentar as populações, especialmente da China.
Por outro lado, há riscos de o país enfrentar sérios problemas com relação ao abastecimento de fertilizantes. Isto porque, de acordo com levantamento do Comex Stat, do Ministério da Economia, de todo fertilizante utilizado nas lavouras brasileiras, mais de 80% é importado. O problema se intensifica, ainda mais, pelo fato da Rússia ser o principal fornecedor, com mais de 20% deste mercado. Alinhado a isto, está o aumento dos custos logísticos consolidando de fato que o produtor pode pagar mais caro para importar os fertilizantes necessários para a manutenção da safra brasileira.
Os principais efeitos para o agronegócio
Mais do que nunca, vivemos em um mundo altamente globalizado, onde tudo está conectado e toda cadeia produtiva, que em seus processos tem relação direta ou indireta com a disponibilidade de petróleo, gás, milho, trigo, óleo de girassol e fertilizantes, são afetados de alguma maneira.
Segundo o estudo da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa (Sire), o Brasil é o quarto maior produtor mundial de grãos, atrás apenas de China, Estados Unidos e Índia. Com 7,8% de toda produção mundial, o país tem grande dependência de importação de insumos para produzir estes grãos, como é o caso dos fertilizantes.
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Diante deste contexto, a dependência existente torna a economia brasileira, fortemente apoiada no agronegócio, vulnerável às oscilações do mercado internacional de fertilizantes. Além disso, as sanções que alguns países já assumiram com a Rússia trazem desconforto ao mercado brasileiro, que precisa mitigar os riscos enquanto promove iniciativas para diminuir as dependências com o mercado russo.
Desta forma, o conflito fez com que o Brasil acelerasse a publicação do Plano Nacional de Fertilizantes neste mês de março, com objetivo de reduzir a dependência em 25% até 2030, focando no aumento da eficiência nas aplicações e na redução da burocracia para exploração e industrialização em território brasileiro.
A tecnologia como ferramenta para superar estes desafios
O conflito nos aclara, com todas as evidências, o quanto os mercados estão interligados globalmente e isto abre espaço para oportunidades em que se precisa, cada vez mais, de aplicações tecnológicas, sempre conectadas às plataformas de gestão. Isto garante que as empresas possam utilizar todos os dados disponíveis para planejar diversos cenários e, assim, preservar o fluxo dos processos com a máxima eficiência e produtividade.
Diante disto, as empresas precisam explorar diversos cenários econômicos em seu planejamento estratégico, ter uma cadeia estruturada de parceiros e fornecedores e diversificar a produção, agregando valor com processos sustentáveis.
É fato que a tecnologia exerce um papel fundamental para auxiliar neste cenário de conflito e tornar as empresas mais inteligentes e sustentáveis, com o objetivo principal de integrar as cadeias produtivas, gerar insights sobre a opinião de clientes, colaboradores e fornecedores, antecipando tendências, oportunidades e mitigando riscos entre os negócios.
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Atualmente, tudo está conectado e o “efeito dominó” dos impactos do conflito é geral quanto às relações entre as nações e seus mercados, especialmente de commodities. Para superar estes desafios é preciso que as empresas promovam a integração de dados e processos, criem cadeias de valor flexíveis, inovem com as melhores práticas do setor, entendendo e gerenciando os impactos para crescer com mais resiliência, maior lucratividade e sustentabilidade.
Sendo assim, a pandemia fez com que o uso de soluções digitais fosse expressivamente acelerado e o conflito entre Rússia e Ucrânia, além dos cenários econômicos, consolida de fato o quanto ainda temos que evoluir enquanto seres humanos habitantes de um mesmo planeta.
Douglas Bini de Paula é Executivo de Negócios da AdopTI, consultoria com portfólio exclusivo e especializado na plataforma de gestão empresarial SAP.
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