Em ascensão no Brasil, mercado de biológicos reúne benefícios que envolvem multifuncionalidade e bioinsumos de precisão capazes de favorecer o meio ambiente, solo e aumentar a rentabilidade do produtor
Os bioinsumos representam um importante movimento em direção à agricultura do futuro. São biodegradáveis, têm toxicidade mínima e não deixam resíduos prejudiciais nos alimentos ou no solo, pois são produzidos a partir de microrganismos, materiais vegetais orgânicos ou naturais.
A adoção de biológicos na área plantada de soja no Brasil foi de 4% para 28% entre 2016 e 2021, um crescimento de 40% ao ano. A pesquisa Market Overview – Biological Products, da Bip Spark, aponta que as culturas de algodão e soja são as que mais utilizam insumos biológicos atualmente, com participações de 67% e 28% de mercado, respectivamente. O feijão ocupa um percentual de 19% e o milho 13%. Isso reforça o potencial do setor, que ganha espaço rapidamente.
Diante desse cenário próspero, em 2020 foi criado o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB) e estima-se que até 2025 o Brasil se torne o segundo maior mercado do segmento. Edsmar Carvalho Resende, conselheiro da Agrivalle, indústria de bioinsumos, explica que esse avanço está apoiado nos inúmeros benefícios das soluções.
“Um deles é a multifuncionalidade dos bioinsumos, que inclui a capacidade de racionalizar e reduzir o uso de agentes químicos e auxiliar a preservação ambiental e a agricultura sustentável”.
Multifuncionalidade dos bioinsumos
Resende acrescenta que a multifuncionalidade está ligada à biologia, na qual é possível identificar que a atuação de um biológico pode resultar em ações diferentes das planejadas inicialmente.
“Isso acontece porque estamos lidando com seres vivos que reagem de maneira distinta ao meio em que estão submetidos. Por isso, são capazes de atacar a doença e, ao mesmo tempo, permitir que a planta produza mais”.
As moléculas de precisão também têm sido aliadas do campo, direcionando os produtos biológicos para o combate de situações específicas e atuando positivamente.
Um exemplo aconteceu com um importante parceiro da Agrivalle, que teve uma área de mais de 5 mil hectares queimada. Nesse caso, para a regeneração do solo, a indicação tradicional seria utilizar o espaço para pastagem durante 2 anos, porém, com os preços dos grãos em ascensão isso acarretaria em grandes perdas.
“Desenvolvemos em nosso laboratório um produto biológico específico para atuar com intensidade na regeneração desse solo e ser capaz de minimizar os danos causados. Intervimos em um conjunto da biota do solo que permite liberar sua potência, trazendo como resultado o aumento de produtividade que alcançou aproximadamente 10% nesses trabalhos iniciais”, pontua o conselheiro.
Atuar com precisão em culturas que estão em desequilíbrio, além de possibilitar uma intervenção direcionada, garante rentabilidade, uma vez que o biológico age no foco do problema.
“Trata-se de uma substância seletiva que não causa desarranjo no ecossistema. Isso resulta em diminuição de custos e impede que novas doenças ou pragas se aproveitem da desordem gerada”, considera Carvalho.
Uma outra amostra da assertividade dos bioinsumos de precisão foi observada no combate ao fungo Rhizoctonia Solani, causador de sérios danos a diferentes tipos de grãos e que atingiu uma área de 20 mil hectares de um parceiro da Agrivalle, resultando na perda de 20% de produtividade anual.
“Nossa equipe de profissionais e pesquisadores isolou o microrganismo, fez o sequenciamento de genoma, buscou a melhor solução dentre o nosso banco de cepas e produtos já existentes. A partir daí desenvolvemos a estratégia capaz de combater o fungo com a melhor eficiência para que a produtividade retornasse ao parceiro”. De acordo com Edsmar, essa é uma das possibilidades dos bioinsumos de precisão: proporcionar soluções customizadas para diferentes situações.
Ainda segundo o conselheiro, um importante diferencial do biológico está na sua viabilidade operacional, racionalizando recursos naturais como os fertilizantes, sendo uma alternativa técnica e econômica não apenas em momentos de crise, mas em todo ciclo de produção do agricultor.
“Há redução de custos operacionais e crescimento da produção com qualidade, sem agredir o meio ambiente e fomentando técnicas agrícolas, sustentáveis e regenerativas”, reforça.