Em anos de alta umidade a ocorrência de antracnose, causada pelo fungo Coletotrichum truncatum é favorecida. A doença pode ser transmitida via sementes e restos culturais.
A chuva e o vento auxiliam na disseminação de esporos produzidos em tecidos já infectados. Nas fases iniciais do ciclo da cultura a doença causa lesões necróticas em cotilédones (Figura 1) e pode levar à morte de plântulas.
No estádio vegetativo é comum o aparecimento de lesões castanho-arroxeadas nas nervuras da parte inferior das folhas e morte de trifólios, através do estrangulamento de pecíolos (Figuras 2 e 3).
Figura 1. Lesões necróticas nos cotilédones de soja. Figura 2. Lesões castanho-arroxeadas nas nervuras da parte inferior das folhas de soja. Figura 3. Estrangulamento de pecíolos e manchas necróticas e profundas nas hastes e nas vagens. Fotos: Caroline Wesp Guterres
À medida que a doença progride, são observadas manchas necróticas e profundas nas hastes e nas vagens. Pode haver abortamento, abertura e queda de vagens em infecções severas. Nos locais da planta infectados é possível observar a presença de pontuações escuras, com pequenas setas, os acérvulos (Figura 4), de onde saem esporos em forma de foice. Plantas infectadas podem apresentar retenção foliar e hastes verdes.
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A doença se manifesta com maior intensidade em anos de alta umidade e temperaturas entre 18°C e 25°C. O excesso na população de plantas, menores espaçamentos e solos com deficiência de potássio também favorecem o aparecimento de sintomas. Quase que a totalidade das infecções ocorre ainda no estádio vegetativo, sendo o inóculo inicial originado da semente ou dos restos culturais.
Após a floração da soja o inóculo passa das folhas para as flores. As flores não fecundadas darão origem a legumes sem grãos. O inóculo presente em vagens servirá de fonte de infecção para as sementes. Sementes infectadas podem apresentar menor germinação e menor vigor.
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A transmissão da semente para a plântula pode ser sintomática, resultando em necrose de radículas, hipocótilo e cotilédones. No entanto, muitas vezes a antracnose é uma doença silenciosa, ou seja, assintomática (infecções latentes). Nestes casos, o crescimento micelial se dá no interior dos tecidos e a manifestação dos sintomas ocorre somente em plantas adultas.
Por isso, uma das principais formas de controle é o uso de sementes certificadas e livres do patógeno. Sementes provenientes de lavouras que sofreram atraso na colheita em função de chuvas podem ter altos índices de infecção por antracnose, o que nem sempre é perceptível a olho nu. Por isso, os testes de patologia de sementes são bastante importantes para identificar quais fungos estão presentes nos lotes de sementes e através disto, direcionar o melhor tratamento de sementes.
Dentre as práticas de manejo, o tratamento de sementes com fungicidas, especialmente tiram, carboxina + tiram e carbendazim, é importante para o controle do fungo. A rotação de culturas com espécies não hospedeiras por pelo menos um ano é outra forma de reduzir o inóculo de antracnose.
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Em parte aérea, são recomendadas aplicações de fungicidas com espectro de controle para antracnose e outras doenças de final de ciclo ainda no estádio vegetativo da soja e antes do fechamento de linhas. Recomenda-se ainda, o uso de cultivares menos sensíveis em áreas com histórico da doença.
A pouca atenção dispensada à sanidade de sementes, a baixa adesão da prática de rotação de culturas e a utilização de variedades com maior suscetibilidade à doença fazem com que a antracnose esteja aumentando ao longo das safras. Infelizmente, muitas vezes ao detectar o problema, as ações corretivas só serão aplicáveis para a safra seguinte.
CAROLINE WESP GUTERRES
Doutora em Fitopatologia pela UFRGS e Pesquisadora na CCGL Tecnologia