O sistema de irrigação por gotejamento aplica água diretamente na região radicular, em alta frequência e baixo volume de aplicação, através de emissores conhecidos como gotejadores, visando suprir a deficiência hídrica da planta e mantendo o solo próximo à sua capacidade de campo.
Com esse sistema, forma-se uma zona úmida dentro do solo conhecida como bulbo úmido e à medida que há a sobreposição desses bulbos úmidos, há a formação da faixa úmida ao longo da linha de gotejadores, daí o nome irrigação localizada, pois irriga apenas a linha onde está plantada a cultura. Desta forma, as perdas de água são reduzidas, obtendo-se com isso eficiência no uso ao redor de 98%.
Além da aplicação de água, o sistema de irrigação por gotejamento também é utilizado para a aplicação de fertilizantes, através da técnica conhecida como Fertirrigação proporcional (que pode ser entendida como a disponibilização de nutrientes para a planta junto com a água de irrigação, na quantidade e no momento fenológico correto), e atualmente trabalhos estão sendo realizados para aplicar outros insumos, como por exemplo a vinhaça.
Aplicação de vinhaça
A vinhaça é classificada como um organomineral, sendo o principal subproduto da produção de etanol nas usinas de cana-de-açúcar. A vinhaça tem altas concentrações de potássio, cálcio, magnésio, enxofre e nitrogênio. Devido ao seu grande volume, a utilização desse efluente suscita grandes preocupações ambientais. A aplicação de vinhaça é amplamente utilizada no Brasil e, em parte, em outros países produtores. A maioria das aplicações é realizada usando autopropelidos, numa técnica conhecida como “fertirrigação”, onde são aplicados volumes de 250 a 600 m³ por hectare, divididos em 1 a 3 aplicações em um período máximo de 120 dias.
Novas técnicas para aplicação desse produto estão sendo utilizadas e entre elas destacamos o uso da vinhaça como fertilizante aplicado através do sistema de irrigação por gotejamento, por ser um método eficiente de aplicação, agronomicamente vantajoso e uma alternativa ambientalmente sustentável.
Pelo fato de os tubos gotejadores estarem enterrados a uma profundidade aproximada de 0,30 m, quando há a aplicação de vinhaça, esse produto também é aplicado em profundidade, desta maneira não havendo contato com o ser humano (aplicador), não havendo disseminação de odor desagradável e nem proliferação de moscas, como a mosca do estábulo (Stomoxys calcitrans). Dessa maneira, atendendo a todas as exigências dos órgãos ambientais fiscalizadores.
Redução na emissão de GEE (Gases de efeito estufa)
Em um trabalho recente, foi comparada a emissão de GEE (gases de efeito estufa) no sistema de irrigação por gotejamento e no sistema de sequeiro. Nesse trabalho, foi comprovado que com o uso do gotejamento, foi possível reduzir em 52% as emissões de CO2 para a atmosfera, como ilustrado no gráfico abaixo. Onde nota-se que as principais reduções impactantes estão na mudança no uso da terra (M.U.T), óleo diesel e corretivos
Proteção de cultivos
Além disso, devido à sua alta uniformidade de aplicação, vários trabalhos sobre a aplicação de defensivos (químicos e biológicos) para as mais variadas pragas da cultura vêm sendo testados para a aplicação via gotejamento. Além dos ótimos resultados agronômicos, pelo fato dos gotejadores estarem em subsuperfície, não há contato do produto com a biota benéfica como, por exemplo, polinizadores ou inimigos naturais das principais pragas. Recentemente, o IBAMA emitiu parecer técnico sobre a aplicação do Tiametoxan através da pulverização aérea (PARECER TÉCNICO FINAL – SEI IBAMA N.º 17732614), devido ao risco de agressão aos polinizadores. Algo que não ocorre quando o meio de aplicação está enterrado.
Devido às suas características de eficiência, uniformidade e principalmente flexibilidade, o sistema de irrigação por gotejamento vem se mostrando um sistema multifuncional e com grande apelo ambiental. Demonstrando que não é apenas um sistema de entrega de água, mas sim, um sistema que permite realizar os tratos culturais e com isso reduzir os custos de produção.