Uso de biotecnologia, manejo assertivo e ferramentas de precisão são fundamentais para reduzir danos das queimadas e acelerar a recuperação das áreas agrícolas
Com o aumento das queimadas em áreas agrícolas, que se agrava pelo avanço das mudanças climáticas, o impacto nas lavouras de cana-de-açúcar e outras cultivares no Brasil é alarmante. De acordo com a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), as queimadas registradas desde o fim de agosto deste ano, já atingiram uma área de cerca de 180 mil hectares, gerando um prejuízo estimado de R$ 1,2 bilhão.
Todavia, o problema é antigo, em 2023, estudos apontaram que as queimadas agrícolas aumentaram 15% em relação ao ano anterior, causando prejuízos econômicos que superam os R$ 5 bilhões, somente no setor sucroenergético. E dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que as queimadas no Brasil cresceram significativamente nos últimos anos, afetando diretamente a produção agrícola. Só no setor de cana-de-açúcar, as perdas de produtividade devido as queimadas representam até 20% em áreas severamente atingidas. Essas perdas resultam em impacto financeiro não só para os produtores, mas também para toda a cadeia produtiva, elevando os custos de produção e comprometendo a competitividade do agronegócio brasileiro.
“Não restam dúvidas de que as queimadas são um grave e corriqueiro problema no mercado de cana, embora, valha destacar que elas têm afetado não somente essa cultura, mas também outras áreas de preservação e produção agrícola. A perda de nutriente e o estresse hídrico são problemas significativos que precisamos enfrentar”, explica Vinícius Vigela, Agrônomo e Coordenador Técnico de mercado da Nitro.
Diante desses desafios e para reduzir tais incidências, o especialista destaca algumas práticas que podem ser adotadas no campo, a fim de proporcionar uma recuperação rápida das plantações em áreas atingidas pelo fogo e as que estão no entorno. Adotar um serviço de manejo pós-queimada é importante para a recuperação da saúde do solo, a proteção das plantas e a retomada da produtividade. Segundo o especialista, neste contexto, o produtor rural deve estar atento em três pontos.
- Insumos para nutrição e defesa vegetal: aplicação de fertilizantes de liberação controlada e defensivos agrícolas (químicos e biológicos) otimizam o reestabelecimento das plantas e fortalecem o sistema de defesa das culturas. Estudos indicam que o uso de biopesticidas e bioestimulantes pode reduzir o tempo de recuperação das lavouras em até 25%, aumentando a resiliência das culturas aos estresses pós-queimadas.
- Recuperação do solo com biotecnologia: a adoção de técnicas de biotecnologia, como a aplicação de microrganismos benéficos ao solo, ajuda a restaurar a fertilidade e a reestruturar áreas degradadas. Esse processo é crucial, já que o solo queimado pode perder até 60% de sua capacidade produtiva se não tratado adequadamente.
“A queima das palhadas afeta a conservação do solo e a biota, favorecendo a ação de fungos entomopatogênicos, por exemplo. Assim, a recuperação envolve a reposição dessas estruturas de resistência e a aplicação de enraizadores para melhorar o crescimento das plantas”, comenta o agrônomo.
- Tecnologia de precisão: o uso de drones e sensores remotos permite a identificação precisa das áreas mais afetadas e o monitoramento contínuo da recuperação. Essa tecnologia também pode auxiliar na otimização do uso de insumos, reduzindo o desperdício e aumentando a eficiência do processo de recuperação.
“A tecnologia é fundamental para monitorar a recuperação e ajustar a aplicação de insumos. Utilizando ferramentas adequadas conseguimos melhorar a solubilização de nutrientes e a atividade biológica no solo, o que é fundamental para o crescimento das plantas pós-queimada”, pontua Vigela.
Segundo o agrônomo, a implementação dessas soluções não só diminui as perdas imediatas, mas também promove uma recuperação mais rápida e sustentável das lavouras.
“Relatórios da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) revelam que, ao aplicar práticas adequadas de manejo e recuperação pós-queimada, os produtores podem reduzir as perdas financeiras em até 35%, além de restaurar a produtividade em 70% das áreas afetadas dentro de um ano”, comenta.
Vigela acrescenta que essas práticas também contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa, fundamentais no combate às mudanças climáticas.
“São várias ferramentas e manejos que podemos adotar para reverter os danos causados pelas queimadas. Com o uso adequado e equilibrado de insumos como Trichoderma, biofungicidas e bionematicidas, podemos melhorar a atividade biológica e promover o crescimento das plantas, restabelecer a qualidade agrícola da área, e ainda melhorar a produtividade do produtor”, conclui.