No dia 31 de março deste ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou sua Carta de Conjuntura 58 que consolida as expectativas da economia brasileira no primeiro trimestre do ano. Na minha percepção, o maior destaque vem novamente do Agronegócio. Segundo o Instituto, o setor agropecuário deve apresentar um crescimento elevado em 2023 e contribuir significativamente para o resultado esperado para o PIB total no ano.
A estimativa é que o valor adicionado (VA) do setor agropecuário cresça 11,6% em 2023, puxado principalmente pela alta nas safras de soja e milho. Entre os componentes, é projetada uma alta de 14,2% na produção vegetal e de 0,8% na produção animal. Para fins de comparação, espera-se, para a indústria, um crescimento 0,4%, e, para o setor de serviços, 0,6%. Vale notar que o Agro é a única esperança do Brasil para o PIB no ano.
A retomada histórica do setor
Após a quebra de safra 2021/2022 da região Centro-Sul, a produção total de soja tem estimativa de crescimento, de acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE – de 21,3% em relação à safra atual. O resultado advém majoritariamente pela recuperação da produtividade nos Estados que mais sofreram, em especial no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Somado a isso, o milho e o café também apresentam perspectivas positivas para 2023, com crescimento nas suas produções de 10,2% e 5,7%, respectivamente. Porém, as estimativas de queda de 6% na produção de arroz e 13,8% na produção de trigo devem ser responsáveis pela redução do VA da produção vegetal, embora a participação desses segmentos no VA do setor agropecuário seja bem menos significativa.
O primeiro trimestre deve apresentar o maior crescimento interanual, com soja e milho de primeira safra como os segmentos com maior contribuição. No segundo tri, espera-se que a soja ainda apresente elevada contribuição positiva, já que é quando acontece a colheita no Rio Grande do Sul. Em 2023, o Estado possui estimativa de crescimento em sua produção de 95,4%.
Somada a ela, as produções de milho de segunda safra e café também devem ser importantes para o resultado interanual do segundo trimestre, assim como para o terceiro. Contudo, o último trimestre de 2023 – que é caracterizado por ser aquele com menor contribuição para o resultado do ano – deve ser negativo, principalmente por conta da queda estimada para a produção de trigo.
Segundo os pesquisadores do IPEA, o setor agropecuário não apresenta crescimento tão elevado desde 2017, quando teve alta de 14,2%. Neste ano, soja e milho também apresentaram altas significativas de 19% e 52,5%, respectivamente. Em relação aos demais setores da economia, em 2017 a indústria teve queda de 0,5%, enquanto o setor de serviços apresentou alta de 0,8%, resultando em um aumento de 1,3% para o PIB total.
Com estimativas modestas para os demais setores, o agropecuário pode apresentar uma contribuição suficiente em 2023 para impulsionar a economia como um todo para um crescimento em patamar similar ao observado em 2017. Essa possibilidade se torna ainda maior, uma vez que o setor contou com um crescimento de sua participação no PIB total e porque soja e milho são, hoje, produtos com peso significativamente maior no resultado do setor agropecuário do que há seis anos – ou seja, se o PIB vier dentro da expectativa de crescimento de 1,4%, palmas ao agronegócio.
O setor que deu certo
É triste acompanhar uma provável queda de 0,2% no PIB da indústria em 2022 pela sétima vez, em 10 anos. Seu PIB do último trimestre de 2022 alcançou 539 bilhões de reais, enquanto o do agro foi de 116 bilhões de reais. Para fins de ilustração, em 2011 a indústria foi responsável por 23,1% do PIB e, em 2021, apenas 18,9%. Em comparação com o agronegócio, a indústria tem muita lição de casa para fazer.
- Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.