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Sustentabilidade na produção da carne bovina: coma carne e salve o planeta!

Sustentabilidade na produção da carne bovina: coma carne e salve o planeta!

O termo “sustentabilidade” pode ser complexo e demandar conceitos ambientais, sociais e econômicos. Ultimamente tem sido comum na mídia manchetes negativas sobre o consumo de carne bovina, nas quais seus opositores se concentram no impacto ambiental e questionam a sustentabilidade do sistema. Ou seja, à medida que mudanças climáticas vêm se tornando mais alarmantes, a carne bovina vem sendo alvo de muitos “defensores do meio ambiente”. Porém, observamos muitas vezes, declarações infundadas, sem base científica e feitas por pessoas sem conhecimento mínimo do assunto. Desde campanhas como “segunda sem carne”, “coma menos carne e salve o meio ambiente”, “não coma carne e salve o planeta” chegando ao ponto de alguns ativistas sugerirem uma maior taxação sobre carne para que seu consumo seja reduzido. Pois bem, o que disso tudo é verdade? Para entendermos o contexto precisamos voltar um pouco no tempo:

O HISTÓRICO

Parte da má reputação da carne surgiu a partir de uma publicação de 2006 feita pela FAO – órgão da ONU para a Alimentação e Agricultura – intitulado “Livestock´s Long Shadow”. Essa publicação teve ampla atenção internacional e pode-se dizer que foi como uma bomba caindo nas cabeças dos bovinos. O estudo afirmava que os bovinos produziam 18% das emissões mundiais de gases de efeito estufa (GEE) e que a produção de carne gerava mais gases que todo o setor de transportes. Na época isso significou que as drásticas mudanças climáticas que passávamos teriam como origem o “pum do boi” e conforme os dados publicados, o ar do mundo estaria tomado por peido de bovinos.

A correção deste equívoco veio em 2010, quando a Universidade da Califórnia anunciou o erro em um conclave de cientistas ocorrido em São Francisco/EUA. Porém a cobertura da imprensa mundial foi mínima e quase ninguém divulgou essa correção. A FAO assumiu imediatamente o erro e até hoje luta para derrubar essa “lenda”.  Mas qual o problema disso? Muitos. Nada mais popular que uma mentira ou erro contados milhares de vezes. Podem acabar virando verdade absoluta. Ainda que hoje sejam mentiras comprovadas, que é o que vem ocorrendo sobre a questão dos bovinos serem os “grandes vilões do efeito estufa”.

Passados mais alguns anos, em 2017, a Envirommental Protection Agency/USA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), publicou um relatório dizendo que as maiores fontes de emissões de GEE (nos EUA em 2016), foram a produção de eletricidade (28%); transporte (28%) e indústria (22%). Citando neste relatório que toda a agropecuária foi responsável por um total de 9% dos gases, sendo que a pecuária (carne e leite) contribuiu com menos da metade desse montante, representando 3,9% do total de emissões dos GEE. Dito isso, precisamos ir a fundo à ciência e aos dados científicos para conhecermos as informações e nos posicionarmos perante a mídia muitas vezes sensacionalista.

OS FATOS

Os bovinos são animais ruminantes, dotados de uma particular capacidade de transformar alimentos pobres (pasto) em produtos de altíssimo valor biológico para o consumo humano (proteína). Essa capacidade se dá a partir de um processo simbiótico que envolve animal hospedeiro (bovino) e uma microbiota que habita seu sistema digestório e que permite que esses alimentos ingeridos, de baixa qualidade, sejam digeridos e transformados em carne e leite.

Esse processo, que ocorre no rúmen, além de gerar energia e proteína para o animal hospedeiro, gera gases como o dióxido de carbono (CO2) e gás metano (CH4), conhecidos como gases do efeito estufa (GEE). E a partir de um processo fisiológico – chamado eructação – os ruminantes eliminam esses gases para o meio ambiente.

Estimativas preliminares de emissões de gases de efeito estufa (GEE) feitas para o Brasil mostram que os ruminantes constituem a principal fonte de emissão de metano (CH4) dentro das atividades agropecuárias. Porém a intensidade dessa emissão, proveniente da fermentação ruminal depende principalmente do sistema de criação onde os animais são manejados e do consumo e qualidade dos alimentos que compõem a dieta dos bovinos.

A pergunta: qual o real impacto no meio ambiente?

É fato que os bovinos produzem os GEE. Porém a questão não é apenas a emissão desses gases e sim o balanço que deve ser feito entre a quantidade de gases produzida e a quantidade que pode ser sequestrada pelo ambiente onde esse animal está sendo manejado. Isto é, precisamos analisar o contexto do sistema de criação.

No Brasil, a grande maioria dos quase 45 milhões de bovinos abatidos/ano (ABIEC, 2020) são criados, recriados e terminados em sistemas pastoris. As pastagens têm papel fundamental na remoção dos GEE (carbono) liberados na atmosfera, e isso acontece a partir dos processos fotossintéticos das plantas que sequestram esse carbono e o incorporam no solo. Atualmente muitos trabalhos têm sido conduzidos no país e têm mostrado que a pecuária praticada de forma sustentável, deixa de ser emissora de carbono para se tornar fonte de redução dos GEE. Muitas estratégias podem ser utilizadas para a redução do impacto ambiental refletindo também em aumento de produtividade e lucratividade dos sistemas produtivos.

Quais as estratégias?

Correto Manejo dos Sistemas Pastoris – controle de carga animal e disponibilidade de pasto, além do uso de espécies forrageiras de alta qualidade e consórcio de gramíneas e leguminosas que melhoram a qualidade a dieta dos animais e permitem um balanço positivo entre emissão e recuperação de carbono pelo sistema. Dados desses sistemas mostram uma diminuição da quantidade de carbono produzido por quilograma de carne produzida. Posto isso, o correto manejo da pastagem, visando à manutenção da matéria orgânica do solo e o aparato fotossintético da planta (folha), se tornam uma ferramenta importante no controle da emissão dos GEE.

Adoção de Sistemas Integrados Agropecuários: a associação de cultivos agrícolas e animal trás sinergismo nas interações entre solo, planta, animal e atmosfera e permite melhorias na conservação do solo, da água, maior tolerância as variações climáticas, menor incidência de plantas daninhas, pragas e doenças nas culturas. A utilização de sistemas integrados como a ILP (integração lavoura-pecuária) e a ILPF (integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF), trazem benefícios para o sistema pela incorporação de carbono no solo, entre outras vantagens.

Intensificação e uso de estratégias nutricionais: a correta formulação de dietas (uso nutrientes que favorecem a relação propionato: acetato), o correto balanço energia-proteína, a utilização de aditivos (ionóforos, taninos e saponinas, etc.) podem alterar o ambiente ruminal refletindo em maiores ganhos e consequente diminuição do tempo de abate dos animais, diminuindo a quantidade de carbono emitida por quilograma de carne produzida.

Considerações Finais

A produção animal sustentável tem sido foco da grande maioria dos produtores, que entendem que todas as estratégias que buscam o sequestro de carbono também aumentam a produtividade dos sistemas e que a convergência destas ações garante aumento da renda e da lucratividade. O correto manejo das pastagens, a eficiência de uso e o desempenho animal individual e por área se torna uma estratégia viável não só pela redução de GEE, mas também pela melhora dos índices zootécnicos da propriedade. Estudos recentes realizados no Brasil pela Embrapa, reunindo mais de 300 pesquisadores do país e do exterior (Projeto Pecus), mostram que pastagens bem manejadas podem reter mais carbono que foi emitido pelos bovinos. Sendo assim, a pecuária nesse formato é uma atividade limpa e pode reduzir as emissões de GEE para a atmosfera. E sob essa ótica podemos dizer que quem consome carne produzida a partir de sistemas sustentáveis está ajudando a salvar o planeta.

Daniele Araldi

Zootecnista, Mestre em Produção Animal, Docente nos cursos de Agronomia, Veterinária e Mestrado em Desenvolvimento Rural da Unicruz

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