Clima mudou setor agrícola em uma década e produtores, gestores e empresas precisam monitorar constantemente as suas vulnerabilidades e fazer adaptações para uma gestão mais sustentável
Uma das grandes pautas do século tem sido a discussão acerca do meio ambiente e um dos setores mais visados dentro do tema é o agronegócio. Denominado mais como “vilão” do que “mocinho”, a agricultura impacta as mudanças climáticas, mas também é impactada por elas, e mais do que nunca precisará de uma gestão de riscos alinhada a um desenvolvimento sustentável para garantir a saúde dos negócios.
Com o aumento populacional, da intensa urbanização e do aumento da longevidade, é esperado o crescimento da demanda global de energia em 40%, por água em 50%, e a necessidade de expansão da produção de alimentos em 35%, até 2030.
Isso porque daqui a oito anos, a expectativa é que a população mundial atinja 8,5 bilhões de pessoas.
A crescente demanda por produção de alimentos com recursos naturais finitos, efeitos sociais e econômicos como pandemias e conflitos externos, além dos requerimentos legais ambientais que o país vem se comprometendo, pressiona a produção no campo.
“Já estamos vivendo um contexto social, econômico e climático de impactos ainda inimagináveis. O agronegócio precisará se reinventar para suprir a demanda, ao mesmo tempo que lida com as mudanças climáticas e tenta cumprir leis e normas ambientais cada vez mais rigorosas. Será necessário ter uma boa gestão de riscos estando bem alinhado às boas práticas ESG – e isso não é simples”, afirma Claudinei Elias, CEO e fundador da Bravo GRC, empresa pioneira em tecnologia e consultoria especializada na implementação e oferta de soluções de Governança, Riscos, Compliance e ESG.
Segundo um levantamento feito pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), entre 2013 e 2022, os prejuízos causados ao setor agropecuário em decorrência de eventos climáticos não são poucos.
As secas foram responsáveis por 86% dos prejuízos no intervalo considerado no levantamento (R$ 186,2 bilhões), e as chuvas em excesso por 14% (R$ 30,3 bilhões). Isto em um cenário onde o Brasil se tornou um dos mais importantes produtores e exportadores de alimentos do mundo, alimentando aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas.
Além dos riscos comuns a qualquer atividade, para a agricultura somam-se ainda os riscos climáticos e bióticos.
“Isso faz com que os gestores das atividades agrícolas precisem monitorar constantemente as vulnerabilidades e adaptação das atividades agrícolas em relação às mudanças climáticas, e à mitigação dos potenciais riscos, utilizando estratégias e ferramentas tecnológicas inovadoras associadas a sistemas de produção e controle mais resilientes à mudança do clima. Avaliar os muitos impactos que podem, também ser positivos, será um premissa para sua sustentabilidade com alcance em todos os pilares do ESG”, analisa Elias.
Para boa gestão é preciso conectividade
A tecnologia não somente ajuda na mitigação dos riscos, como também auxilia na redução de desperdícios de produtos, melhorando ainda mais os desafios das condições climáticas, bem como aumenta a eficiência da operação, garantindo maior produção agrícola.
“A conectividade e soluções digitais podem apoiar a pauta de sustentabilidade Ambiental (E do ESG), uma vez que a utilização da tecnologia permite a racionalização de recursos como combustíveis fósseis, defensivos agrícolas etc. A utilização de soluções digitais permite também a documentação das boas práticas do agro”, comenta Rodrigo Oliveira, CEO da Sol – Internet of People, hub de serviços em tecnologia, inteligência de dados, internet das coisas e conectividade dedicada ao agro.
Segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), com dados do Censo Agropecuário 2017 do IBGE, apesar do avanço considerável de acessos entre 2006 e 2017, o setor agropecuário representa um contingente com acesso ainda tímido à internet.
Para se ter uma ideia, no Centro-Oeste, que é uma das maiores áreas agrícolas no mundo, apenas 28,96% dos produtores rurais contam com acesso à internet. No Sudeste, a região mais rica do Brasil, apenas 36,95% dos produtores rurais contam com acesso à internet. No Norte e Nordeste, os números são de apenas 15,69% e 21,77%, respectivamente. O Sul é a região melhor posicionada, com 43,89%, mas ainda assim menos da metade da população rural com acesso à internet.
Há um longo caminho a ser percorrido, porém um caminho necessário (senão, obrigatório). 2030 está logo aí!