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Sem integração entre portos, ferrovias e rodovias o Brasil vai parar

Sem integração entre portos, ferrovias e rodovias o Brasil vai parar

Especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior com mais de 50 anos de experiência, Paulo César Alves Rocha, que monitora a infraestrutura brasileira para integração de portos, ferrovias e rodovias afirma que o país precisa urgentemente de um plano de investimento para o setor de logística.

Segundo a projeção do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLP), até o ano de 2042 a demanda para os portos brasileiros tende a crescer 92%. Para que esse crescimento ocorra de forma ordenada, é preciso que a estrutura e administração portuária seja aprimorada no país. Ao longo dos últimos anos, houve um crescimento exponencial de portos, ferrovias e rodovias no Brasil, mas de forma pouco ordenada. É o que afirma especialista Paulo César Alves Rocha.

Existem 36 Portos Públicos organizados no Brasil. Nessa categoria, encontram-se os portos com administração exercida pela União, no caso das Companhias Docas, ou delegada a municípios, estados ou consórcios públicos. A área destes portos é delimitada por ato do Poder Executivo. Dados do Banco Mundial mostram que um container leva uma média de 13 dias para ser exportado do Brasil. Desses 13 dias, 6 são devidos aos trâmites burocráticos.

Veja abaixo a entrevista com o especialista Paulo César Alves Rocha:

OnevoxPRess Brasil: O problema de armazenagem dos portos esbarra também na eficiência da integração dos modais. Na sua visão, como as ferrovias podem desafogar esse gargalo?

Paulo César Alves Rocha: As ferrovias podem desafogar este gargalo porque transportam mais tonelagem por vagão e tem vias fixas para rodar, possibilitando a mecanização da descarga e carga dos vagões. Cada vagão substitui em média quatro caminhões e os trens podem ser formados por dezenas de vagões. As ferrovias contribuem para a integração entre modais porque percursos pequenos podem ser feitos por caminhões, médios por trens e longos por embarcações.

OnevoxPRess Brasil: As ferrovias que chegam aos portos são operadas por concessionárias e os Portos pelas autoridades constituídas. O que precisaria ser feito nesses dois contextos para modernizar e aumentar a eficiência da logística integrada?

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Paulo César Alves Rocha: Os Operadores dos Portos e os das Ferrovias devem chegar a um bom termo no sentido que a integração entre os dois modais de carga seja feita em pátios próprios e mecanizados, de forma a dar velocidade no carregamento/descarregamento de trens e embarcações, garantindo assim a eficiência deles.

OnevoxPRess Brasil: A entrada em vigor do novo marco regulatório das ferrovias deve atrair outros investidores da iniciativa privada para a construção de novas linhas e revitalizar as que estão paradas. O que isso pode impactar para os portos em um futuro próximo?

Paulo César Alves Rocha: Já estão protocolados diversos pedidos de autorizações de novos ramais ferroviários, alguns ligando pontos de produção à ferrovias existentes e outros de acesso à Portos. Estes pedidos devem se multiplicar nos próximos meses. O impacto nos Portos será o de aumento de carga transportada por via ferroviária, o que certamente irá fazer com que os Portos devam investir tanto em melhorias nos ancoradouros quanto em pátios ferroviários para atender o aumento da demanda.

OnevoxPRess Brasil: O agronegócio cresce cada vez mais e a globalização idem, demandando dos portos uma maior rapidez e eficiência dos processos. Quais os portos brasileiros que considera protagonistas e que oportunidades para novos terminais você enxerga para o desenvolvimento do setor?

Paulo César Alves Rocha: Considero que o impacto no aumento da demanda do agronegócio nos Portos se dará inicialmente nos Portos do Pará (Barcarena), Itaqui (Maranhão), Santos e Paranaguá. Depois da conclusão dos projetos de ampliação da malha ferroviária, entram em cena Alcantara (Maranhão), Pecem (Ceará), Suape (Pernambuco). Resumindo, os Portos que têm prevista integração com projetos novos da malha ferroviária, quer sejam para novos trajetos como para a modernização de trajetos existentes, terão expressivo aumento de demanda.

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Paulo César Alves Rocha: No passado o Brasil se desenvolveu primeiro acompanhando os portos, quer marítimos quer fluviais, depois por uma extensa malha ferroviária e desafortunadamente por rodovias. Quando se desenvolveu por rodovias, a infraestrutura era toda bancada pelo Estado, ao contrário dos demais modais, o que ocasionou uma concorrência desleal entre eles e a sua decadência. Agora com a crise que aflige o Estado com parcos recursos, se vê uma igualdade de custeio entre eles, existindo, porém, ainda destinação de recursos orçamentários para rodovias enquanto não se vê nenhum ser alocado para ferrovias, hidrovias ou portos. As ferrovias vão promover desenvolvimento e proteção ao meio ambiente, assim merecem também ter recursos orçamentários. Também deve se estar atento ao pedido de valores a título de outorga, que não deveriam existir no caso de transportes e servem apenas para tapar buracos orçamentários e na realidade são uma antecipação de pagamento de taxas pelos usuários ao Governos.

*Paulo César Rocha é especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior com mais de 50 anos de experiência em infraestrutura, transportes, logística, inovação, políticas públicas de habitação, saneamento e comércio exterior brasileiro. Mestre em Economía y Finanzas Internacionales y Comércio Exterior e pós-graduado em Comércio Internacional pela Universidade de Barcelona. É mestre em Engenharia de Transportes (Planejamento Estratégico, Engenharia e Logística) pela COPPE-UFRJ. Pós-graduado em Engenharia de Transportes pela UFRJ e graduado em Engenharia Industrial Mecânica pela Universidade Federal Fluminense. Tem diversos livros editados nas Edições Aduaneiras.

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