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O papel do trigo no manejo integrado de plantas daninhas

O papel do trigo no manejo integrado de plantas daninhas

O manejo de plantas daninhas foi tema de palestra no Seminário Técnico do Trigo 2024, promovido pela Biotrigo

Dor de cabeça da maioria dos agricultores, as plantas daninhas são sinônimo de prejuízo na lavoura. Algumas espécies, como a buva, estão espalhadas em mais de 19 milhões de hectares no país e causam perdas relevantes na principal cultura do agronegócio brasileiro, a soja. Estima-se que 4 a 12 plantas de buva por metro quadrado que sobrem da dessecação podem reduzir de 4 a 12% a produtividade da soja. E em um cenário de desafios nas últimas safras de verão, tomar medidas efetivas para reduzir os impactos das invasoras na lavoura pode ser a diferença entre uma propriedade que fecha a conta no azul e uma que fica no vermelho.

Durante o Seminário Técnico do Trigo de 2024, promovido pela Biotrigo Genética, a temática ganhou destaque. Mauro Rizzardi, professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) e fundador da Up.Herb, plataforma educativa especializada em plantas daninhas, foi um dos palestrantes do evento. Segundo ele, o manejo de plantas daninhas atualmente precisa ser feito através de medidas integradas, desde a escolha da cultivar e sua época de semeadura.

“Controlar plantas daninhas é feito inclusive com herbicidas. Eles são um instrumento importante, mas não podem ser o único”, cita.

Para Mauro, o produtor deve olhar para o seu sistema produtivo e observar quais soluções ele irá utilizar. E uma das mais eficientes, sob a ótica do manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), é o cultivo do trigo durante o inverno.

“Realizando uma boa dessecação e semeando o trigo no limpo, conseguimos fazer com que a cultura cubra rapidamente o solo e diminua o fluxo de emergência das plantas daninhas que vão ocorrer nesta época e respondem à luz, sendo a buva a principal delas”, menciona.

Como consequência dessa redução de plantas daninhas, o trigo faz com que a quantidade de herbicidas no pré-plantio da cultura da soja seja reduzida.

“Esse é um benefício que muitas vezes o produtor não quantifica, mas que vai impactar em um menor custo de controle de invasoras na soja”, aponta.

Resultados de pesquisa realizada pela UPF em 2006 apontam que a ocorrência média de buva em uma lavoura de soja pós-pousio era de 26,7 plantas por m². Já quando o trigo era inserido no sistema, como a cultura antecessora à soja, a ocorrência foi reduzida para 3,4 plantas por m². Na safra de 2023, a área de trigo na região Sul girou em torno de 3 milhões de hectares, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Quando observamos a área de soja, porém, percebemos uma grande disparidade, com cerca de 13 milhões de hectares cultivados.

“O Paraná ainda possui uma vantagem, com a forte presença do milho safrinha, mas de forma geral, percebemos uma grande defasagem na área de inverno, que poderia estar sendo utilizada com alguma cultura para trazer retorno econômico e agregar dentro do sistema, não permitindo a multiplicação dessa quantidade de sementes na área”, indica Mauro.

Variabilidade da população é desafio no controle das invasoras

A lógica é simples. Uma área sem cobertura no inverno gera aumento na população de plantas daninhas. Esse aumento, por sua vez, gera maior dificuldade no controle da população, devido à variabilidade genética.

“Quanto maior a população de uma daninha na área, mais diferentes serão seus indivíduos, o que impacta em um desafio cada vez maior no controle”, pontua Mauro.

De acordo com o professor, uma planta de buva que sobra do pousio irá produzir de 200 a 400 mil sementes.

“Esse fator, por si só, já justifica a montagem de estratégias de controle”, atesta.

Junto à cobertura da área durante o período do inverno, para reduzir o banco de sementes de invasoras, é recomendado que o agricultor varie os cultivos dentro da propriedade.

“Toda vez que eu uso somente uma cultura, como a soja, eu vou utilizar os mesmos herbicidas. Assim, há uma tendência de eu selecionar a resistência a partir da repetição de herbicidas”, afirma.

Essa adaptação aos produtos ajuda a explicar o porquê doses de 1 litro por hectare utilizadas anos atrás passaram a ser insuficientes para o controle de certas daninhas, ocasionando em um gradual aumento da dose e, consequentemente, do custo de produção.

O desafio das plantas daninhas dentro da cultura do trigo

Em sua palestra, Rizzardi também abordou os desafios de manejo das plantas daninhas dentro da cultura do trigo em si. Para o Rio Grande do Sul, de forma geral, o azevém se coloca como a principal planta daninha do estado, seguido pela buva e pelo nabo. No Paraná, o nabo e o azevém também causam prejuízos, mas perdem protagonismo para as aveias, que costumam se apresentar como as principais invasoras do estado. No Cerrado, cresce a presença do capim pé-de-galinha, da trapoeraba e da vassourinha-de-botão, dentre outras. Ainda, se apresentam como importantes plantas daninhas secundárias da cultura do trigo a cevadilha, serralha, erva-de-passarinho, flor-roxa, capim-amargoso e cipó-de-veado.

“Cada região terá a sua particularidade quanto às espécies de plantas daninhas e a sua maior ou menor dificuldade de controle”, menciona.

Tendo em vista o controle de aveias e azevém, Mauro aponta que o manejo deve ser feito sempre antes da planta produzir sementes.

“Se eu fizer um bom manejo pré-plantio e depois pré-emergência, eu vou manter no trigo uma população baixa de azevém e aveias, o que ao longo do tempo contribui para a redução do banco de sementes dessas plantas”, cita.

Com essa diminuição, o produtor passa a ter maior eficácia nas alternativas químicas.

“Para aveias e azevém, atualmente enxergo que o manejo químico passa pelo uso de pré-emergentes e, se necessário, a complementação com pós-emergentes”, comenta.

Dentro do manejo em pós-emergência, Mauro ainda aponta uma particularidade a ser considerada.

“Temos que, claro, visar a redução do banco de sementes, inviabilizando novos fluxos de emergência, mas acima de tudo precisamos diminuir a matocompetição inicial, fator que irá agregar muito no ganho de produtividade da cultura e redução do potencial de perdas”, destaca.

O evento

O Seminário Técnico do Trigo 2024 foi realizado em Campo Mourão (PR) e reuniu cerca de 280 pessoas, entre técnicos, cooperativas, cerealistas, produtores de sementes, multiplicadores e triticultores do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraguai. O evento contou com o patrocínio de Basf, Bayer, Syngenta, Ihara, Laborsan, Yara e UPL.

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