Nova geração de biológicos utiliza microrganismos para diminuir uso de produtos químicos. Agronegócio é responsável por cerca de 15% das emissões de GEE do planeta
Na última Cúpula de Ação Climática realizada pela ONU, o Brasil retomou o compromisso de diminuir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 48% até 2025, e em 53% até 2030, reforçando a importância de governos e empresas aplicarem com urgência soluções para uma atividade econômica mais sustentável. A principal delas, o agronegócio, é responsável por até 15% das emissões totais de GEE em todo o mundo.
“Parte dos produtos usados na agricultura são responsáveis por uma parcela significativa das emissões globais. Somente o fertilizante nitrogenado é responsável por 2,5% de todas as emissões globais, superando as emissões de setores relevantes, como aviação por exemplo. Mas, hoje, já contamos com opções biológicas que minimizam esse efeito”, afirma Rafael de Souza, CEO e um dos fundadores da Symbiomics – startup de biotecnologia que desenvolve uma nova geração de biológicos de alto desempenho.
Gerador de tecnologias, o departamento de Pesquisa & Desenvolvimento da empresa trabalha com o que há de mais avançado no mercado para os estudos de microbioma, genômica e análise de dados, desenvolvendo soluções de nutrição vegetal, biocontrole, sequestro de carbono e bioestimulantes usados para aumentar a produtividade agrícola de forma sustentável e com menor impacto ambiental.
“As pesquisas recentes apontam que o microbioma das plantas é um fator tão importante quanto a genética vegetal. Todos os microrganismos associados a uma planta, que formam – junto às atividades por eles desempenhadas – esse microbioma, impactam diretamente no desenvolvimento e resiliência vegetal”, explica Jader Armanhi, cofundador e COO da startup, que integra o portfólio da Vesper Ventures, venture builder fund com foco em biotecnologia avançada.
Entre as tecnologias já desenvolvidas pela Symbiomics estão as soluções desenhadas com base em microrganismos que tornam elementos como o nitrogênio e o fósforo disponíveis para absorção das plantas durante o ciclo produtivo. Armanhi explica que esses nutrientes não podem ser utilizados diretamente pelas plantas da maneira como são encontrados no ambiente. Por isso, a agricultura tradicional aplica soluções químicas – e com alta pegada de carbono – para que a planta possa absorver dali o nutriente que precisa. No entanto, a produção desses químicos é, na maioria dos casos, energeticamente custosa e extremamente poluente.
Estima-se que cada 1 kg de fósforo retirado da natureza gere 1 kg de GEE. Fora isso, trata-se de um recurso natural não renovável e que já está com os dias contados. Para resolver esse problema, a biotech tem trabalhado no desenvolvimento de uma solução com microrganismos solubilizadores do elemento, que garantem um suprimento de altíssima tecnologia adequado para a suplementação de fósforo durante as fases do desenvolvimento do plantio.
Um exemplo é o cultivo de milho: para produzirmos uma média de 5.500 kg de grãos por hectare, é necessário utilizar cerca de 420 kg de ureia como fertilizante. Atualmente, no Brasil, temos quase 22 milhões de hectares dedicados ao cultivo de milho. Isso implica na necessidade de aproximadamente 9,2 milhões de toneladas de ureia anualmente para essa cultura. Vale ressaltar que cerca de 50% deste fertilizante é perdido por lixiviação.
Como a produção e transporte de cada 1 kg de fertilizante nitrogenado resulta na liberação de aproximadamente 10 kg de gases de efeito estufa, apenas no Brasil a utilização deste fertilizante no cultivo de milho pode resultar na emissão de quase 200 milhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano.
“A Symbiomics, no entanto, tem dedicado seu pipeline de P&D para identificar microrganismos que possam reduzir drasticamente esse cenário. Isso porque, de maneira natural, alguns microrganismos, mais eficientemente, transformam o nitrogênio do ar em algo fácil da planta absorver”, afirma o cientista.
O impacto, além de favorável à compensação da pegada de carbono da atividade, minimiza os riscos de contaminação dos lençóis freáticos, outra consequência da lixiviação dos fertilizantes nitrogenados aplicados.
Toda essa tecnologia tem sido criada e aplicada aqui no Brasil. O país, com suas novas metas de emissão, pode ampliar esse potencial de atrair mais “investimentos verdes”. Segundo Souza, o campo de microbioma/biológicos é um dos que mais cresce, especialmente na América Latina e, hoje, já está avaliado em quase US$ 13 bi. Mesmo com excelência nas pesquisas desenvolvidas no Brasil, a maior parte dos investimentos ainda acontece fora do país.
“Temos a capacidade de desenvolver essas tecnologias disruptivas aqui no Brasil. E de fazer algo novo, diferente. A Symbiomics é um exemplo disso. Temos, também, toda a biodiversidade do Brasil à nossa disposição, e não tenho dúvidas de que as melhores soluções para os grandes problemas que enfrentamos hoje nas emissões de GEE e no aquecimento global passam pelo Brasil e por nossas biotechs”, finaliza o CEO.