Na agricultura vivemos um período de euforia e ao mesmo tempo de apreensão. A euforia dos que percebem o valor do conhecimento como base do planejamento da produção. O conhecimento como valor maior do que o financiamento, o insumo, as marcas comerciais ou práticas isoladas de manejo. Diferenciam-se os agricultores que percebem a base sustentável da renda e das metas de aumento na produção e no conhecimento aplicado por hectare.
A distribuição das produções de lavouras mostra que os agricultores que adotam boas práticas agrícolas produzem 48% acima das médias de soja e 98% acima das médias de milho. Esses produtores têm variações nos rendimentos de suas lavouras e, em partes delas, obtém rendimentos da sua própria média. Com isso, pode se concluir que em partes das lavouras de altos ganhos produzem-se o dobro das médias regionais. O custo básico de produção das áreas de baixo e de alto rendimento são equivalentes e a diferença está na capacidade de identificar as variáveis e adotar qualidade nos processos.
A agricultura de precisão, por exemplo, evoluiu como conceito depois dos mapas de fertilidade do solo, da aplicação em taxas variáveis de fertilizantes e dos mapas de colheita. Os agricultores e os profissionais de assessoria que registram, monitoram e quantificam demonstram com muita facilidade o valor do conhecimento e da qualidade das pessoas na agricultura.
O aumento na rentabilidade exige ajuste fino na soma dos processos e nas estratégias de manejos nos sistemas de produção, planejados a médio e longo prazo. As apreensões estão nas dificuldades maiores: o controle de pragas (insetos, fungos e plantas daninhas), que exige identificação, monitoramento e estratégias de manejo, rotação de culturas e controle nos sistemas de produção.
No passado os pais ameaçavam os filhos com a expressão: “meu filho, se não estudar vais trabalhar na roça”. Hoje, com as novas demandas e necessidades a expressão mudou para: “meu filho, ou filha, se quiseres trabalhar em agricultura, vá estudar”. Nos últimos anos cresceu a demanda de estudantes por escolas de agronomia, veterinária e técnicas agrícolas. Novos cursos apareceram, os jovens voltam a interessar-se pela agricultura como negócio viável e com o orgulho de fazer parte da cadeia de produção de alimentos.
Pessoas com conhecimento e sabedoria são necessárias para manejar plantas com eficiência e responsabilidade no uso de recursos naturais. Necessita-se de mais conhecimento, parcerias comprometidas e redes de troca de informação e compartilhamento de experiências práticas.
A demanda por pessoas está na qualificação profissional e na paixão pela agricultura. A falta delas induz mudanças. Como a ocupação da mulher em atividades consideradas de homens, como manejar tratores, colhedoras e gestão de ferramentas. A percepção diferenciada da mulher leva a melhor qualidade na semeadura, na nutrição e na proteção de plantas, além de melhor qualidade nos processos de registros e relatos dos eventos que ocorrem nas plantas e nos equipamentos.
O desafio está em qualificar a mão-de-obra disponível, oferecer alternativas de trabalho para o grupo familiar de funcionários para manter pessoas em atividade na lavoura, garantindo qualidade e comprometimento. Da mesma forma, preocupar-se com a filha e a esposa do agricultor garante a qualidade e comprometimento nas atividades diárias da agricultura.
Dirceu Gassen.
Conselho Científico de Agricultura Sustentável.
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