Nos últimos dias, dezenas de criadores de Mato Grosso do Sul tiveram prejuízos milionários em razão do frio intenso no final do outono que causou a morte de pelo menos 2.800 animais. A queda acentuada da temperatura, associada a ventos intensos e chuva, não poupou animais de diversas fases de vida, de bezerros a fêmeas e bois adultos.
Embora o fenômeno já tenha se repetido em anos anteriores, a notícia gerou comoção em todo o país e preocupou outros criadores, que também podem enfrentar perdas significativas em seus rebanhos.
De acordo com Elissa Vizzotto, zootecnista e coordenadora Técnica de Leite da Premix, todo cuidado é necessário para minimizar os danos causados pelo frio e garantir que os animais sobrevivam a esse período.
Elissa explica que a temperatura corporal é mantida dentro de certos limites relativamente estreitos, mesmo que a temperatura ambiente flutue e que suas atividades variem intensamente.
“Eles precisam produzir calor para aumentar a temperatura corporal quando a temperatura externa diminui, ou perder calor, diminuindo a temperatura corporal no estresse térmico”, afirma.
No estado de hipotermia ou estresse por frio a perda de calor para o ambiente é mais rápida do que a produção de calor metabólico gerado via consumo de alimentos. “Nestas condições, para que os animais consigam gerar calor, ocorre a vasoconstrição, que tem como objetivo diminuir a condução de calor do sangue para a pele. Também ocorre a piloereção, ficando o pelo do animal arrepiado, o que evita a perda de calor”, destaca Elissa.
Alterações comportamentais como procura por áreas de exposição ao sol (ganho de calor por radiação) e, quando não suficiente, tremor e execução de exercícios (caminhadas), são alguns dos comportamentos observados nos animais.
Os bezerros recém-nascidos também alteram seu comportamento em baixa temperatura ambiental para aumentar a produção de calor para níveis máximos em resposta à exposição ao frio. Durante a mudança de temperatura, o bezerro começa a ter tremores, produzindo calor suficiente para equilibrar suas perdas. Isso envolve também a regulação do fluxo sanguíneo para a pele, frequências cardíaca e respiratória alteradas e a ereção do pelo.
“A falha do bezerro em produzir calor suficiente pode levar ao desenvolvimento de complicações secundárias, incluindo distúrbios digestivos e respiratórios crônicos, diarréia e pneumonia, que afetam o desempenho posterior e aumentam a mortalidade”, ressalta.
A seguir, a especialista dá algumas dicas importantes que podem ajudar o criador a manter a saúde e o bem-estar dos animais nessa época de baixas temperaturas. Confira:
Cuidados com bovinos de leite
Proteger os animais do vento. O vento reduz acentuadamente a temperatura efetiva, aumentando o estresse pelo frio nos animais. Se estiverem em pastagem, o ideal é posicioná-los em invernadas que possuam barreiras naturais (morros) ou vegetais (árvores, cercas vivas ou colunas de feno) para amenizar o efeito dos ventos frios. Evite correntes de ar frio, geralmente canalizadas, ao longo dos cursos d’água.
Garantir cama seca. Fornecer cama seca faz diferença significativa na capacidade do gado de resistir ao estresse pelo frio. Os dejetos das camas devem ser recolhidos ao menos uma vez ao dia para evitar o aumento da umidade.
Em sistemas de compost barn, em que a área é revestida com serragem ou maravalha, é necessário ter maior atenção. Nas regiões do sul do Brasil, onde o inverno é umido, o compost precisa ser revolvido ao menos duas vezes ao dia e ventilado para deixar a cama seca, evitando também o aumento da contagem de celulas somáticas.
Manter as vacas limpas e secas. Os cascos úmidos reduzem as propriedades de isolamento e tornam as vacas mais suscetíveis ao estresse pelo frio.
Evite possicionar os cochos de água ou comida em áreas com barro. Se possivel, faça a troca de lugar dos cochos quando a área ao redor estiver com barro.
Fornecer alimentação adicional. Para compensar o aumento da exigência de energia, os bovinos precisam de concentrados e volumosos de melhor qualidade.
Certifique-se de que as vacas tenham bastante água disponível o tempo todo. Limitar a água também limitará a ingestão de concentrados e tornará mais difícil para os animais atenderem às suas necessidades energéticas.
Cuidados com bezerros
Umidade. A fim de evitar a hipotermia, recomenda-se fazer uma rápida secagem dos bezerros no momento do nascimento para reduzir a perda de calor, visto que esses animais possuem a superfície corpórea úmida e baixa quantidade de tecido adiposo. Caso seja necessário reaquecer o animal, pode-se utilizar uma toalha para enxugá-lo ou usar pó secante. Depois disso, o bezerro pode ser enrolado em cobertores ou colocado em uma cama de feno em um local que mantenha a temperatura.
Temperatura. A cama é potencialmente eficaz para reduzir a perda de calor dos bezerros, especialmente as camas mais profundas, que deixam parte do corpo do bezerro protegido, ajudando a reduzir a perda por calor.
Um método muito comum em propriedades leiteiras é a utilização do calor das lâmpadas colocadas próximas ao neonato. Cortinas para quebrar o vento também são interessantes em bezerreiros.
Alimentação. Outra forma de combater a hipotermia é fornecer energia extra através da alimentação para atender o aumento dos requisitos de energia de manutenção para produzir calor. Isso inclui elevar o fornecimento do colostro acima de 10% do peso vivo nas primeiras horas após o nascimento. O colostro fornece lactose, aminoácidos e triglicerídeos, constituindo uma excelente fonte de energia (6,7 MJ/kg) para a produção de calor.
Em relação ao leite ou substitudo lácteo, devido a falta de funcionalidade do rúmen os bezerros jovens devem ser alimentados com energia extra, aumentando a quantidade de dieta líquida de boa qualidade para atender ao aumento nos requisitos de energia de manutenção, quando alojados abaixo da zona de conforto.
Os produtores podem aumentar o volume de leite ou sucedâneo fornecido a cada mamada ou elevar o teor de sólidos a cada mamada, ampliando o consumo de energia. Outra maneira de aumentar a ingestão de energia é usar sucedâneo com maior teor energético ou adicionar gordura ao sucedâneo.
“Atenção especial deve ser data a temperatura da dieta líquida (leite/sucedâneo) nos dias de frio; esta deve ser fornecida a 39ºC, temperatura próxima a do corpo das bezerras. O fornecimento de leite frio pode comprometer o ganho de peso dos animais, além de aumentar a ocorrência de falha no processo de fechamento da goteira esofágica”, finaliza Elissa.