POR ASSESSORIA
Setor que representa mais de 20% do PIB ainda é composto, em grande maioria, por companhias tradicionais que, aos poucos, começam a direcionar seu olhar para a digitalização
A digitalização é uma realidade em praticamente — senão todos — os setores econômicos. Cada vez mais novas tecnologias são utilizadas para facilitar processos e melhorar resultados. No agronegócio, uma das principais atividades da economia brasileira, que respondeu por 27,4% do PIB do Brasil em 2021, não é diferente.
De acordo com especialistas, a demanda por profissionais “tech oriented” (ou orientados pela tecnologia, em português), com alta consciência digital é cada dia maior. “Isso acontece especialmente com aqueles profissionais mais analíticos, conhecedores das técnicas de análises de dados”, explica Camila Maron, sócia da EXEC, empresa de Executive Search.
Segundo Maron, a transformação digital do agronegócio no Brasil já é uma realidade. “Para que haja a correta fusão entre o ‘agro tradicional’ e o ‘agro digital’ é necessário estar atentos a alguns pontos que poderão ajudar na mitigação de danos durante o processo de adaptação destes novos profissionais”, pontua.
Perfil dos profissionais: tradicional x digital
De acordo com a especialista da EXEC, um dos pontos importantes é entender o perfil dos profissionais que atuam em empresas tradicionais versus companhias mais digitais.
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Na empresa tradicional, Camila ressalta a presença de executivos com conhecimento e maior foco em um único mercado, especialistas técnicos, formados em Agronomia e em Administração, profissionais com idades entre 35 e 50 anos em cargos de liderança e que possuem relacionamento analítico com os clientes.
“Normalmente são focados em processos robustos, com foco em atender a necessidade da empresa. E os times são formados em grande parte por homens”, analisa.
Já em relação a uma companhia com um DNA mais digital, o cenário é diferente: times diversos em origens, credos, experiências e vivências, pessoas mais jovens, falta de conhecimento específico do mercado de agro e abertos a novas perspectivas e tecnologias emergentes.
No entanto, a sócia da EXEC destaca que esses profissionais saem na frente, mesmo não sendo especialistas em agro, porque tem de sobra uma visão estratégica focada em solucionar a dor do cliente.
Cuidado na seleção dos executivos
Com perfis tão distintos, Camila alerta para a necessidade de ter cuidado na hora de selecionar executivos para o setor do agronegócio. “Se esse processo não for estruturado, sem levar em consideração as dores, o contexto do cliente e o propósito da empresa, o encontro de gerações e pensamentos pode causar um impacto na cultura da empresa e gerar diversos problemas”.
A sócia da EXEC enumera alguns. Entre eles, o investimento em um setor de inovação que fica isolado da companhia para criar soluções digitais e não conseguir o resultado esperado. “Nesse caso, isso mostra que o departamento comercial ainda tem dificuldade de se engajar com aquela determinada solução”.
Outro ponto são as frustrações internas dos colaboradores analógicos e digitais, segundo ela, que faz com que a pluralidade perca a força.
Camila ressalta ainda que em uma empresa tradicional, um líder com mindset digital pode ser sentir desestimulado. “Isso pode acontecer devido à diferença de velocidade e o excesso de burocracias. Esse tipo de situação pode fazer com que ele rapidamente volte a ficar disponível para o mercado de trabalho”.
Vantagens no encontro de gerações
Por outro lado, a especialista da EXEC ressalta que se esses times forem liderados por um executivo com um perfil digital, que seja integrador e valorize as diferenças, o encontro de gerações e de perfis diferentes pode trazer vantagens para a companhia.
Impulsionamento da inovação, vantagens competitivas e desenvolvimento individual do negócio são algumas delas. “Isso tudo se traduz em valorizar e estimular as diferenças, deixando as pessoas à vontade para compartilhar suas ideias e criar um ambiente de trabalho mais saudável. Além disso, proporcionar um ambiente de integração entre times diversos para levar ao engajamento de áreas diferentes a um mesmo objetivo”, avalia Camila.
Jornada ainda é longa
Camila diz que quando a EXEC realiza o processo de seleção de um líder digital para um setor tradicional como o agronegócio, faz uma análise profunda da companhia, incluindo seus valores, objetivos para a posição e contexto para encontrar o executivo mais adequado.
A jornada da digitalização é longa. Para ter um líder digital, é preciso que a empresa também invista em processos de transformação cultural e digital. “A caminhada só está começando”, conclui.
*Camila Marion trabalha desde 2007 com Executive Search. É especialista em Agronegócio, Indústria e Bens de Consumo. Atualmente é sócia da EXEC, empresa dedicada a projetos de seleção de executivos, avaliação da efetividade de conselhos consultivos e de administração, estruturação e entrega de soluções de desenvolvimento humano e organizacional, com ênfase em transformação cultural e digital.