POR ALINE LOCKS, CEO DA PRODUZINDO CERTO
Quando elas andam juntas, o produtor ganha e o mercado gosta
Há pouco mais de uma semana, tive uma grata surpresa ao receber uma mensagem com a imagem capa da mais recente edição da revista Exame. Lá estava eu, na foto, sentada em um sofá ao lado de três empreendedores de diferentes áreas — Britaldo Hernandez, fundador da Solinftec, Bernardo Tabiani, da TerraMagna, e Fábio Terracini, da Adroit Robotics. No design moderno, o título escrito na diagonal: “A novíssima safra de startups do Agro”.
Ali, eu era, de certa forma, a personagem diferente. A única mulher e a única a representar uma empresa que não tem o DNA digital. Mesmo a denominação startup parecia nova para nós. Sim, a Produzindo Certo é uma empresa jovem, de apenas três anos. Mas estamos pisando o barro, com o conceito que nos trouxe até aqui, há quase 18. E, sim, temos a tecnologia incorporada em nossa rotina e como diferencial de nossos processos. Mas nossa alma é antiga, do tempo da conversa na varanda das fazendas.
“Há startups que, inclusive, ensinam agricultores a cuidar melhor do meio ambiente, como a Produzindo Certo, de Goiânia. A empresa ajuda no diagnóstico e na adequação de propriedades para que atendam aos mais altos padrões ambientais e sociais.” Assim o jornalista Lucas Amorim definiu, no texto, a nossa atuação. E então, me convenci. Somos uma startup do agro, assim como as incríveis empresas dos meus colegas de foto. Uma Agtech, para usar o termo moderninho. Com muito orgulho.
A reportagem conta como a tecnologia aplicada ao agro tem ajudado a transformar, em vários níveis, a produção agropecuária, da simplificação do crédito ao uso da inteligência artificial para dar vida a robôs dentro das lavouras ou sensores para ajudar no uso racional de insumos. E trouxe números que comprovam como essa tendência, sobretudo os de aportes feitos por investidores brasileiros e estrangeiros nas agtechs. Entre 2017 e 2021, foram US$ 264 milhões recebidos por startups nacionais, segundo levantamento da Distrito citado pela Exame.
Nesses mesmos dias, o noticiário dava mostras que o apetite continua grande. Na segunda-feira, 18, o banco Itaú anunciou ter adquirido 12,8% do marketplace Orbia, plataforma criada pela Bayer para comercialização de insumos agrícolas no ambiente digital. No mesmo dia, a Agrosmart revelou que está fazendo sua terceira rodada de captação para levantar entre US$ 15 e US$ 20 milhões para ampliar a área de atuação da empresa, que se destacou com o uso de sensores para fazer recomendações de irrigação a produtores. SP Ventures, Bradesco e Positivo já participaram das rodadas anteriores.
Não basta ser Tech…
Entender o que abre o apetite desses investidores é o diferencial das agtechs que conseguem sobreviver a um duro processo de seleção natural. A receita parece simples: investidores buscam soluções inovadoras para problemas reais do campo. A convivência harmoniosa de produção e respeito aos recursos naturais e humanos é uma questão real para muitos produtores.
A tecnologia digital tem grande contribuição a dar (e tem dado) para que essa relação tão sensível aconteça de forma responsável, dentro da lei e da expectativa de consumidores cada vez mais exigentes. Mas ela não é tudo. Boas ideias e boas práticas socioambientais, muitas vezes utilizam tecnologias analógicas, simples, eficientes e baratas.
Na Produzindo Certo, entendemos isso há alguns anos, observando a prática nas propriedades rurais. Compreendemos também que a maior parte dos produtores procura atuar em conformidade com as legislações ambiental e social. Mas muitas vezes não sabe como fazê-lo. Quando tecnologia e sustentabilidade se unem, é mais fácil levar essa informação a ele.
O produtor gosta de tecnologia, mas não gosta que lhe empurrem qualquer tecnologia. Até os investidores já perceberam isso. O que ela deve ter para conquistá-lo (e fazer brilhar os olhos do capital)? Aqui vai uma pista.
Tecnologia boa é aquela que…
- 1. Gera conhecimento
Não se faz gestão daquilo que não se conhece. Ter dados e informações sobre a propriedade é o primeiro passo para ser mais eficiente e responsável. - 2. Simplifica processos
Tornar simples o que era complicado e burocrático permite concentrar mais tempo e energia em ser produtivo e rentável. - 3. Reduz custo e tempo investidos
Adotar novas tecnologias em geral tem seu preço. Por isso, é preciso entender como ela ajuda a ganhar com redução de mão-de-obra ou insumos, por exemplo. - 4. É acessível e escalável
Quanto mais gente puder adquirir e usar uma nova solução, maior seu impacto junto às empresas, às pessoas e ao meio ambiente. - 5. Traz benefícios reais
Tecnologia não é para ser bonita ou ser exibida. Se não é utilizada e não ajuda a resolver uma dor do produtor, não merece sua atenção e seu dinheiro. Foque sempre em quem está atento ao seu problema. - 6. Amplia horizontes
Uma tecnologia leva à outra e abre caminhos para mais conhecimento, oportunidades e novos mercados. Cruzar essa porteira e testar novas possibilidades pode te levar mais longe.
Em breve, a Produzindo Certo usará a tecnologia para colocar nas mãos do produtor rural, de forma simples, eficiência, conhecimento, poder de decisão, benefícios reais e novos horizontes para sua produção responsável. Seremos, então, um pouco mais agtech. Mas sem perder o lado humano que nos fez chegar até aqui.
Aline Locks é engenheira ambiental, cofundadora e atual CEO da Produzindo Certo, solução que já apoiou a maneira como mais de 6 milhões de hectares de terras são gerenciados, através da integração de boas práticas produtivas, respeito às pessoas e aos recursos naturais. Liderou projetos com foco em inovação e tecnologia, como o ‘Conectar para Transformar’, um dos vencedores do Google Impact Challenge Brazil. Recentemente foi selecionada pela Época Negócios como um dos nomes inovadores pelo clima, é uma das 100 Mulheres Poderosas da revista Forbes e uma das líderes do agronegócio 2021/2022 pela revista Dinheiro Rural.