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Quais lições aprendemos com as situações adversas?

Quais lições aprendemos com as situações adversas?

Clima

Embora as previsões climáticas para a safra de soja 2019-2020 já indicassem a possibilidade de neutralidade ou de períodos de escassez de chuva no Rio Grande do Sul, o tempo de semeadura entre outubro e início de novembro foi de grandes volumes de chuva. Com isso, além de problemas de emergência em função da umidade em muitas regiões (também observados na safra 2018-2019), a semeadura acabou se concentrando no final de novembro.

Em consequência das semeaduras ocorrerem mais tarde, de haver a presença de inóculo de ferrugem observada por coletores de esporos espalhados pelo Rio Grande do Sul e em virtude da boa disponibilidade hídrica, a expectativa era de que, no geral, a primeira aplicação de fungicidas fosse ocorrer em situação de maior pressão de ferrugem no campo já em janeiro.

Para que qualquer doença ocorra é necessário que o ambiente seja favorável, haja disponibilidade de inóculo e que as plantas sejam suscetíveis. No entanto, a falta de chuva e as temperaturas elevadas a partir de meados de dezembro afetaram um dos principais componentes do triângulo da doença, o ambiente. Sem condições favoráveis de ambiente, não há desenvolvimento de epidemias.

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Algumas regiões enfrentaram períodos de déficit hídrico superiores há 25 dias, o que afetou de forma significativa não só a ocorrência de doenças, mas também o desenvolvimento de plantas. As principais respostas das plantas ao estresse hídrico são o desequilíbrio hormonal, a redução na solubilização, absorção, transporte e assimilação de nutrientes, a perda de folhas e flores, a redução na taxa fotossintética e o abortamento de vagens.

A estimativa da Rede Técnica Cooperativa (RTC), em janeiro de 2020, apontou reduções na produtividade de soja próximas a 20%. Porém, somente após a colheita estes dados serão realmente confirmados, podendo aumentar conforme a quantidade de chuva. Em cenário de falta dessa, a tendência é de que os produtores segurem o manejo fitossanitário, atrasando assim a entrada de fungicidas nas lavouras ou aumentando os intervalos entre as aplicações. No momento da tomada de decisões é importante considerar o potencial produtivo da lavoura que pode variar de região para região.

Em algumas regiões, principalmente em semeaduras de outubro e com cultivares mais precoces, os danos foram irreversíveis. Porém, em outras, com a volta das chuvas, as plantas retomaram o desenvolvimento e, junto com ele, retornaram as condições favoráveis para infecção e estabelecimento de doenças. Quando as condições ambientais se normalizam, as infecções latentes (que já ocorreram internamente nas plantas) tendem a esporular, propiciando o desenvolvimento de doenças. Descuidos no manejo de doenças nos períodos de menor precipitação podem comprometer de forma significativa o manejo da ferrugem e de outras doenças ao longo de todo o ciclo da cultura.

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Nenhuma safra é igual à outra. É importante distinguir os diferentes cenários e adotar estratégias adequadas de manejo para cada situação. Algumas práticas, como: a escolha de sementes com alto vigor – que permitem melhor enraizamento e absorção de água em profundidade; a diversificação de cultivares; as épocas de semeadura e de ciclos de cultivares; a quantidade e o tipo de palhada disponível – que favorece a retenção de água no solo; a descompactação dos solos; e a adubação equilibrada contribuem para minimizar as perdas causadas por estiagens.

Pensando no controle de doenças, mesmo em períodos de menor precipitação, faz-se importante a manutenção de intervalos regulares entre as aplicações, priorizando as noturnas e com maior vazão. Além disso, a utilização de fungicidas que tenham efeito fisiológico na planta, especialmente os com capacidade de reduzir o estresse oxidativo e o risco de fitotoxidez, tornam-se igualmente essenciais.

Caroline Wesp Guterres
Doutora em Fitopatologia pela UFRGS e Pesquisadora na CCGL Tecnologia

A coluna Clima faz parte da Revista Agrocampo.

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