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O estresse térmico e a soja

O estresse térmico e a soja

As populações que vivem nos aglomerados urbanos situados nos limites geográficos da região conhecida como Cone Sul da América do Sul vêm experimentando o desconforto de intensas e prolongadas ondas de calor nos últimos tempos. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (WCDMP, na sigla em inglês), considera-se que ocorre uma onda de calor quando, num intervalo de pelo menos 6 dias consecutivos, a temperatura máxima diária é superior em 5ºC ao valor médio diário no período de referência. Nas últimas semanas, portanto, temos sido submetidos a diversas ondas de calor neste verão de 2019. Dizem que é reflexo do fenômeno climático El Niño ou anomalia meteorológica decorrente do aquecimento global que a camada de ozônio acomete a biosfera terrestre.

Seja o que for, o certo é que as plantas que se distribuem sobre os campos e terras dessa imensa região do continente sul-americano também se encontram expostas a esses extremos climáticos. Dia e noite; dia após dia, sob a inclemência do sol e a torridez do calor.

Para quem lida com agricultura, há muito se sabe que fatores climáticos, como temperatura, fotoperíodo e estresse hídrico, podem exercer efeito prejudicial sobre o crescimento e o metabolismo das plantas. E se sabe também que precipitação pluvial e temperatura são as principais variáveis meteorológicas determinantes das oscilações anuais no rendimento de grãos de soja em suas regiões produtoras. Os milhares de produtores gaúchos que cultivam soja a cada safra, atingindo este ano mais de 5,5 milhões de hectares, estão acostumados com a inevitabilidade de perdas de rendimento que a recorrência de estiagens causa em suas lavouras. Em Cruz Alta, por exemplo, um município entre os de maior área de cultivo de soja no Estado, em 22 anos – período entre as safras de 1990/91 e 2011/2012 – houve 11 delas com volumes acumulados de chuva inferiores à média histórica de 30 anos para o município. Esses números e constatações foram obtidos em coleta de dados para fundamentar pesquisas que realizamos no Curso de Agronomia da Universidade de Cruz Alta.

No que diz respeito a temperaturas sabe-se também que há efeitos deletérios sobre as plantas quando ocorrem extremos como as ondas de calor que atualmente vivenciamos. Vejamos seu efeito sobre a soja, a principal cultura de nosso sistema agrícola atual.  Segundo a pesquisa, a temperatura adequada para a soja é de 15-22ºC na emergência; 20-25ºC na floração e 15-22ºC na maturação. Temperatura máxima acima de 35ºC causa estresse térmico que tem efeito nocivo na floração e na formação de vagens.

Pesquisadores de universidades americanas, Iowa State University e University of Illinois entre elas, têm investigado exaustivamente os efeitos da temperatura sobre a soja. Seus resultados têm indicado que temperaturas elevadas no estágio de crescimento R5 (início do enchimento de grãos), têm o maior impacto negativo no rendimento da soja. Durante o preenchimento das sementes, temperaturas diurnas superiores a 30ºC podem causar diminuição do tamanho e peso dos grãos da soja, enquanto temperaturas de 33 a 36ºC podem resultar em menor número de grãos por planta.  Durante este período, as vagens estão preenchendo a uma taxa máxima, tornando a planta mais suscetível a tensões e fazendo com que ela mova nutrientes de outras partes da planta. Movendo esses nutrientes irá enfraquecê-la e abri-la à invasão por doenças por intermédio das raizes e folhagens.

Imaginem o que pode afetar as plantas quando há sincronia entre altas temperaturas e deficiências hídricas!

O brabo de tudo isso é que umidade e temperatura são contingências difíceis de serem enfrentadas no campo.  A escassez de umidade talvez pudesse ser superada por irrigação; mas irrigar os mais de 5,5 milhões de hectares que ufanizam a sojicultura gaúcha é praticamente impossível. E quanto às altas temperaturas, como refrigerar as lavouras?

A verdade é que, entre nós, a constatação de danos causados por essas ondas de calor aos cultivos agrícolas, como milho e soja, são difíceis de determinar e/ou quantificar, em razão da inexistência de metodologia, procedimentos e pesquisas sobre o assunto.

Assim, só nos resta esperar que também se escasseiem as ondas de calor.

E torcer também para que a propalada saída do Brasil do Acordo de Paris – TRATADO INTERNACIONAL EM QUE 195 NAÇÕES SE COMPROMETERAM A COMBATER O EFEITO ESTUFA QUE PROMOVE MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS – não passe de mais uma execrável fake news.

Luiz Pedro Bonetti

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